quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Por que somos eternos insatisfeitos? Especialistas analisam

Faça uma reflexão para saber se a sua insatisfação é positiva ou não

É comum idealizar que determinada conquista trará a felicidade. Ter o emprego dos sonhos, o carro do ano, mudar de cidade ou ser correspondido no amor aparecem muitas vezes como ideais para alcançar a tão almejada satisfação na vida. Mas, depois que os objetivos se concretizam, o prazer da realização nem sempre dura e a insatisfação volta a atormentar.
Afinal, por que o ser humano nunca fica satisfeito? "É uma característica que está na origem do desenvolvimento da nossa espécie", diz Eugenio Mussak, médico de formação, professor da FIA-USP (Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo) e da Fundação Dom Cabral nas áreas de liderança e gestão de pessoas, além de escritor e palestrante.
Para Mussak, a insatisfação na história da origem da humanidade pode ser considerada positiva, pois possibilitou a evolução e fez o homem se movimentar para viver melhor. O problema é que o acesso às inúmeras facilidades do mundo atual, dos bens de consumo e serviços à informação, elevou muito os padrões de satisfação. "É difícil hoje ficarmos satisfeitos ou pelo menos satisfeitos por muito tempo", observa.
O filósofo, escritor e professor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) Jair Lopes Barboza acredita que o ser humano é carente por natureza. "Além das necessidades naturais, temos aquelas criadas pelo mundo do consumo", aponta. A combinação de tantos desejos, na visão de Barboza, cria um ciclo complexo de satisfazer e gerenciar, que influencia na percepção da felicidade.

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Muitas escolhas
Pelos menos para o cidadão médio, com boas condições de vida, nunca houve tantas possibilidades de escolha como agora. Do celular à calça jeans, das opções de curso superior às oportunidades no mercado de trabalho, o leque não para de crescer.
Entretanto, mais liberdade de escolha nem sempre corresponde a um maior grau de satisfação. O psicólogo norte-americano Barry Schwartz chamou essa incoerência de "paradoxo da escolha", em um livro com o mesmo título e vídeo que ficou famoso na internet. Segundo esse conceito, ter mais escolhas deixou as pessoas mais paralisadas e insatisfeitas do que felizes.
Para Eugenio Mussak, o que angustia o ser humano não é a necessidade de escolher, mas a percepção de que uma opção pressupõe várias renúncias. Além disso, ele chama atenção para a ansiedade que o descontrole em relação aos anseios materiais pode acarretar. "A insatisfação é ruim quando está vinculada ao consumo desenfreado. Nada contra o consumo, só temos de tomar cuidado para que ele seja minimamente consciente", diz.
Se por um lado estar insatisfeito leva o indivíduo a se aprimorar e buscar outros caminhos, por outro é capaz de promover um descontentamento permanente. O psicólogo Kester Carrara, professor do Departamento de Psicologia da Faculdade de Ciências da Unesp (Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"), campus Bauru (SP), destaca que a insatisfação é parceira fundamental da motivação, contudo depende de um autocontrole para não se tornar prejudicial.
"Se nunca paramos para saborear o prazer de algumas coisas conquistadas, a satisfação incontida nos faz sofrer", ressalta. Para desfrutar da liberdade de escolha sem cair no abismo da insatisfação permanente, Jair Barboza sugere a busca do equilíbrio e da sabedoria.

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Ilusão de felicidade
Muitas vezes algo que se quer tanto perde a graça logo depois que se obtém. Na opinião do professor da UFSC, isso acontece porque frequentemente as pessoas associam erroneamente a conquista da felicidade plena a determinados objetivos. "Somos movidos pela ilusão de que podemos ser plenamente felizes. Talvez se fôssemos vacinados contra isso, a insatisfação seria menor", diz Barboza.
Kester Carrara afirma que a satisfação e a felicidade estão intrinsecamente ligadas às histórias de vida de cada um e vão além do contexto econômico. "Há pesquisas mostrando diferenças significativas entre obter uma série de coisas e condições econômicas e ser feliz", exemplifica o psicólogo.
Apesar de estarem próximas, insatisfação e infelicidade não são sinônimas. "Você pode ser uma pessoa insatisfeita no bom sentido [de querer mudar uma situação] e ser feliz, desde que você não precise trocar de carro todo ano para ser feliz", explica Mussak. O palestrante também destaca a importância de ter consciência da realidade para alcançar a serenidade mesmo em momentos de insatisfação.
A capacidade de ser mais satisfeito com a vida não depende apenas das circunstâncias externas. "O nosso estado de espírito é determinante para gostarmos ou não da nossa situação no mundo", diz o filósofo Jair Barboza. Para viver com mais satisfação, ele defende como essencial um retorno a si mesmo, para que seja possível aproveitar melhor os momentos de felicidade e o que faz bem a cada um. "O mais importante é a pessoa reconquistar o tempo para ela", enfatiza. Fonte: MdeMulher

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