terça-feira, 7 de outubro de 2014

Depois de bater recorde, dólar cai com fenômeno Aécio

Moeda norte-americana, que oscilou de R$ 2,20 a R$ 2,49 neste ano, sofre impacto das eleições


Depois de ter chegado ao valor máximo do ano (R$ 2,49) na última sexta-feira, o dólar caiu ontem 3,4%, de acordo com a média apurada pelo Banco Central, fechando a R$ 2,40. A oscilação é resultado da surpreendente votação do candidato Aécio Neves (PSDB), que chegou ao segundo turno das eleições com 33% dos votos, deixando o mercado satisfeito. Segundo levantamento feito pela FOLHA no site do BC, o dólar teve valor mínimo de R$ 2,20 em 2014. 
A política é um dos fatores que tem influenciado o câmbio neste ano. No primeiro trimestre, o dólar flutuou entre R$ 2,30 e R$ 2,40. Depois, oscilou num patamar mais baixo, na casa dos R$ 2,20 até o final de setembro, quando voltou a subir. E, segundo o professor de economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), João Basílio Pereima, não é somente a eleição que vem influindo na taxa cambial. 
A alta nas taxas de juros, praticada pelo Banco Central desde o ano passado, foi a responsável, na opinião do professor, pelo período de estabilização da moeda norte-americana na casa dos R$ 2,20. Juros mais altos atraem investimentos estrangeiros e valorizam o real. Mas, a medida, segundo Pereima, já não surte tanto efeito porque, do outro lado, há um processo crescente de desiquilíbrio da balança comercial. Ao mesmo tempo que entra capital atraído pelos juros altos, saem dólares devido ao aumento das importações. 
Além disso, de acordo com o economista, há o efeito especulativo devido à piora ou melhora da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas. O mercado financeiro não quer saber da pesquisa. "É o que a gente chama de comportamento de manada. O primeiro investidor sai correndo (comprando ou vendendo dólar) e os outros vão atrás sem saber por que", afirma. Segundo ele, trata-se de oscilações a curto prazo (no mesmo dia), que nada têm a ver com os fundamentos da economia. 
Pereima acredita que a evolução das taxas cambiais vai depender de quem ganhar as eleições. "A expectativa é que, se o Aécio ganhar, ele irá jogar as taxas de juros lá para cima para controlar a inflação. Eles (os tucanos) já fizeram isso, colocaram os juros acima de 20%", afirma. Neste cenário, a tendência é de o real se valorizar perante a moeda norte-americana. Vencendo a presidente Dilma, o economista acredita que o dólar deve permanecer com valor mais alto, porque o PT não irá radicalizar no combate à inflação. 
Já para o também economista e professor das UFPR, Marcelo Curado, em curto prazo, há uma tendência de desvalorização do real caso a presidente Dilma vença a eleição. E deve ocorrer o contrário se o vitorioso for Aécio Neves. Mas, a longo prazo, depende muito da postura adotada pelo eleito. "Diante dos resultados econômicos de seu governo, não descarto que, se reeleita, a presidente implante uma política ortodoxa. Acredito que ela possa tomar um caminho mais tradicional para retomar a credibilidade", afirma. 
Para o professor, "em princípio", Aécio tende a ser mais duro no combate à inflação, elevando juros no início do mandato. Mas, ao contrário de Pereima, ele não acredita que essa medida tenha tanto impacto no câmbio. "Os juros não são a variável mais importante para definir o câmbio. Em primeiro lugar, está a credibilidade no País. Depois, vem a balança comercial e, só em terceiro lugar, estão os juros", afirma. 
Ontem, o Relatório de Mercado Focus, divulgado pelo Banco Central, mostrou que a expectativa mediana para a cotação do dólar no fim de dezembro está em R$ 2,40. No levantamento anterior, era de R$ 2,35 e, há um mês, de R$ 2,33. Já para 2015, a cotação subiu de R$ 2,45 para R$ 2,50 - um mês antes estava em R$ 2,49. Com essa alteração, a projeção mediana para o câmbio médio deste ano passou de R$ 2,29 para R$ 2,32. Para o ano que vem, a mediana do dólar médio aumentou de R$ 2,42 para R$ 2,45. No levantamento de um mês atrás estava em R$ 2,44. (Com Agência Estado)

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