Entrevista com Eduardo Daher
É necessário que haja uma 2ª Revolução Verde para que as pessoas possam continuar sendo alimentado
É necessário que haja uma 2ª Revolução Verde para que as pessoas possam continuar sendo alimentado
Depois
do salto gigantesco que a agricultura brasileira apresentou nos últimos
quarenta anos, levando o país a passar da condição de dependente da importação
de alimentos para a posição de segundo maior exportador mundial, o setor se vê
diante de um novo desafio. É o momento de dar a largada para a Segunda
Revolução Verde. De acordo com Eduardo Daher, diretor da Andef (Associação
Nacional de Defesa Vegetal), o agronegócio no Brasil precisa registrar um
crescimento de 40% em produtividade até 2050 para que a produção agrícola
mundial aumente 20% e possa atender 9 bilhões de pessoas em todo o mundo.
Como podemos definir a Primeira
Revolução Verde?
Eduardo Daher |
Essa
primeira revolução aconteceu após 1970, quando o Brasil era dependente do
mercado internacional, sobretudo, na importação de alimentos. Em quarenta anos,
passamos à posição de segundo maior exportador de comida, atrás apenas dos
Estados Unidos. A Revolução Verde aconteceu pela necessidade de o país se
tornar independente e deu certo porque, além de incluir a ocupação e abertura
do Cerrado, veio embasada em tecnologia. O Brasil passou a adotar
fertilizantes, sementes certificadas, defensivos agrícolas, máquinas e
equipamentos, que garantiram maior produtividade. Nesse cenário de salto
tecnológico na agricultura, foi fundamental o papel da Embrapa, que completou
40 anos em abril: não só incorporamos tecnologia como passamos a desenvolver
tecnologia para agricultura tropical. Sem falar na contribuição do inpEV e do
sistema de logística reversa de embalagens vazias de agrotóxicos, que é
emblemático e representa a evolução do setor.
Por
que precisamos ter a Segunda Revolução Verde?
Para
vencer o desafio de alimentar uma população de 9 bilhões de pessoas no mundo,
crescimento de 28,5% em relação ao número atual e que deve ser alcançado em
2050. Para isso, é preciso que a produção agrícola mundial cresça 20% e o
Brasil deve contribuir com um aumento de 40%. A intenção é fazer mais com
menos. Precisamos aumentar a produção de alimentos, de forma sustentável, com o
uso de tecnologia adequada e de produtos cada vez mais eficientes, como
defensivos que permitem menor quantidade de aplicação. Esse novo salto exige
adoção de tecnologias inovadoras, com respeito à saúde humana e ao meio
ambiente. O plantio direto, por exemplo, já é um sucesso e deve ser ampliado,
assim como novas tecnologias, como a integração lavoura/pecuária e até
lavoura/pecuária/silvicultura, aumentando a área cultivada sem derrubar uma
árvore e criando um ciclo em que se produz na terra o ano todo.
Que iniciativas a Andef prevê para
promover essa nova revolução?
Estamos
empenhados em investir ainda mais em treinamento e educação de quem atua no
campo, assim como em divulgar a história do agronegócio no Brasil para o meio
urbano por meio de ações na mídia. Divulgaremos um pequeno filme sobre o
engenheiro agrônomo norte-americano Norman Borlaug, prêmio Nobel da Paz, que
foi o grande estimulador da Primeira Revolução Verde. Estão previstas várias
iniciativas no segundo semestre deste ano para levar ao campo boas práticas
agrícolas e mostrar a importância do uso de tecnologias que permitem produzir
mais e melhor.
Quais considera os maiores desafios
para a agricultura no momento?
Temos
área disponível, possibilidade de incorporação de áreas de pastagem e eficiente
tecnologia tropical, tudo levando ao sucesso do agronegócio que sustenta a
balança comercial brasileira e nos colocará na posição de celeiro do mundo. Mas
é preciso vencer os gargalos da infraestrutura e logística, e superar os
obstáculos da burocracia. Não adianta só desenvolver a tecnologia. Temos que
levá-la ao campo, temos que ensinar, treinar, equipar e financiar.
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