quinta-feira, 25 de julho de 2013

Vai faltar comida no mundo

Entrevista com Eduardo Daher

É necessário que haja uma 2ª Revolução Verde para que as pessoas possam continuar sendo alimentado
Depois do salto gigantesco que a agricultura brasileira apresentou nos últimos quarenta anos, levando o país a passar da condição de dependente da importação de alimentos para a posição de segundo maior exportador mundial, o setor se vê diante de um novo desafio. É o momento de dar a largada para a Segunda Revolução Verde. De acordo com Eduardo Daher, diretor da Andef (Associação Nacional de Defesa Vegetal), o agronegócio no Brasil precisa registrar um crescimento de 40% em produtividade até 2050 para que a produção agrícola mundial aumente 20% e possa atender 9 bilhões de pessoas em todo o mundo.

Como podemos definir a Primeira Revolução Verde?
Eduardo Daher
Essa primeira revolução aconteceu após 1970, quando o Brasil era dependente do mercado internacional, sobretudo, na importação de alimentos. Em quarenta anos, passamos à posição de segundo maior exportador de comida, atrás apenas dos Estados Unidos. A Revolução Verde aconteceu pela necessidade de o país se tornar independente e deu certo porque, além de incluir a ocupação e abertura do Cerrado, veio embasada em tecnologia. O Brasil passou a adotar fertilizantes, sementes certificadas, defensivos agrícolas, máquinas e equipamentos, que garantiram maior produtividade. Nesse cenário de salto tecnológico na agricultura, foi fundamental o papel da Embrapa, que completou 40 anos em abril: não só incorporamos tecnologia como passamos a desenvolver tecnologia para agricultura tropical. Sem falar na contribuição do inpEV e do sistema de logística reversa de embalagens vazias de agrotóxicos, que é emblemático e representa a evolução do setor. 
Por que precisamos ter a Segunda Revolução Verde?
Para vencer o desafio de alimentar uma população de 9 bilhões de pessoas no mundo, crescimento de 28,5% em relação ao número atual e que deve ser alcançado em 2050. Para isso, é preciso que a produção agrícola mundial cresça 20% e o Brasil deve contribuir com um aumento de 40%. A intenção é fazer mais com menos. Precisamos aumentar a produção de alimentos, de forma sustentável, com o uso de tecnologia adequada e de produtos cada vez mais eficientes, como defensivos que permitem menor quantidade de aplicação. Esse novo salto exige adoção de tecnologias inovadoras, com respeito à saúde humana e ao meio ambiente. O plantio direto, por exemplo, já é um sucesso e deve ser ampliado, assim como novas tecnologias, como a integração lavoura/pecuária e até lavoura/pecuária/silvicultura, aumentando a área cultivada sem derrubar uma árvore e criando um ciclo em que se produz na terra o ano todo.
Que iniciativas a Andef prevê para promover essa nova revolução?
Estamos empenhados em investir ainda mais em treinamento e educação de quem atua no campo, assim como em divulgar a história do agronegócio no Brasil para o meio urbano por meio de ações na mídia. Divulgaremos um pequeno filme sobre o engenheiro agrônomo norte-americano Norman Borlaug, prêmio Nobel da Paz, que foi o grande estimulador da Primeira Revolução Verde. Estão previstas várias iniciativas no segundo semestre deste ano para levar ao campo boas práticas agrícolas e mostrar a importância do uso de tecnologias que permitem produzir mais e melhor.
Quais considera os maiores desafios para a agricultura no momento?
Temos área disponível, possibilidade de incorporação de áreas de pastagem e eficiente tecnologia tropical, tudo levando ao sucesso do agronegócio que sustenta a balança comercial brasileira e nos colocará na posição de celeiro do mundo. Mas é preciso vencer os gargalos da infraestrutura e logística, e superar os obstáculos da burocracia. Não adianta só desenvolver a tecnologia. Temos que levá-la ao campo, temos que ensinar, treinar, equipar e financiar.



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